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Homens poderiam viver mais se cuidassem mais da própria saúde

No dia  15 de julho, é comemorado o Dia do Homem no Brasil. A data, proposta pela Ordem Nacional dos Escritores em 1992, tem como objetivo alertar a sociedade sobre as doenças que acometem o sexo masculino, com ênfase nas medidas direcionadas à prevenção e ao diagnóstico precoce.

Dados da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde demonstraram que os homens são mais vulneráveis a enfermidades do que as mulheres, especialmente as doenças crônicas e graves, e por esta razão, morrem mais cedo. Dentro da mesma faixa etária, a cada três mortes de pessoas adultas, duas são de homens.

Homens no Brasil vivem, em média, sete anos menos do que as mulheres, além de ter propensão a doenças do coração, câncer, diabetes, colesterol elevado, hipertensão arterial e tendência à obesidade, entre outros problemas de saúde. A cultura patriarcal, vigente na nossa sociedade, estimula um comportamento no homem que é atípico na mulher, ou seja, homens precisam resistir em cuidar da saúde com a convicção que são imunes e resistentes a quaisquer doenças, enquanto a mulher procura anualmente o ginecologista.

Estudo realizado no Centro de Referência da Saúde do Homem, órgão da Secretaria de Saúde de São Paulo, mostrou que 60% do total de pacientes recebidos naquela unidade já apresentavam doenças em fase avançada e necessitavam de atendimento de maior complexidade. A falta de uma cultura preventiva, que valorize o autocuidado, o medo da descoberta de uma doença e a possibilidade de ter que se submeter a um tratamento, bem como a vergonha em realizar procedimentos clínicos e se expor a um profissional da saúde, são alguns elementos que tornam os homens mais vulneráveis e mais resistentes na procura por atendimento médicos.

Os argumentos dos homens que rejeitam a possibilidade de adoecer, são os mais variados, porém sempre baseados na posição de provedor. Eles não têm tempo para consultas médicas, pois não podem faltar ao trabalho. Dentre todas as especialidades médicas, é inegável que a Urologia guarda uma estreita relação com o gênero, permitindo que hoje o urologista seja visto como o médico do homem.

E neste papel cabe-lhe a função de identificar as doenças e os agravos à saúde e orientar os pacientes a adotarem medidas preventivas e curativas para seus males. Mas, seguramente, ainda existem inúmeras barreiras a serem vencidas para que uma verdadeira política de atenção integral à saúde do homem seja implantada em nosso país, incentivando e facilitando o acesso da população masculina aos serviços médicos.

Nas últimas décadas tivemos avanços nas políticas públicas de atenção à saúde masculina, é verdade, porém os resultados práticos ainda são pouco visíveis.  Infelizmente, a saúde do homem ainda não foi suficientemente abordada quanto à sua relevância e peculiaridades. Desconstruir o mosaico de situações e posições assumidas pelos homens frente à sua saúde torna-se uma tarefa ainda mais complexa. Outro ponto crucial é a não identificação masculina com os programas atualmente oferecidos pelos serviços de saúde. O planejamento e a execução de ações de prevenção voltadas aos agravos da saúde masculina devem ser reformulados.

Esses achados evidenciam o quanto o sistema de saúde é deficitário em relação à atenção à saúde no que diz respeito a esse gênero. Diante dessas evidências, é indispensável à adoção de políticas que promovam um ambiente de apoio para esses homens, mediante estratégias destinadas a ajudá-los no enfrentamento da realidade que vivenciam.

Desde 2004, a Sociedade Brasileira de Urologia vem se dedicando à causa da saúde do homem e, a partir de 2008, passou a atuar junto à diferentes setores da sociedade na defesa de ações específicas voltadas para esse objetivo. Reforçamos a identidade do urologista como o médico do homem, e como este profissional está diretamente envolvido no diagnóstico e tratamento das doenças prostáticas, particularmente, o câncer de próstata.

Embora a Urologia não seja uma especialidade voltada apenas para o homem, a própria SBU tende a apresentá-la como tal, tão grande é o peso das questões da saúde masculina em sua pauta. A adesão às práticas de rastreamento das patologias urológicas, entre elas, o câncer de próstata, as infecções sexualmente transmitidas, as neoplasias genitais etc., podem se constituir em um importante marcador do autocuidado masculino.

A avaliação periódica da próstata é um exemplo e representa uma oportunidade única para que os homens possam ser investigados, orientados e tratados. Devemos fortemente encorajar a realização das campanhas de rastreamento e prevenção das doenças masculinas. Do contrário, e não adotá-las, deixa o homem brasileiro ainda mais desamparado dos cuidados de saúde.

Dr. Geraldo Eduardo de Faria é presidente da Sociedade Brasileira de Urologia – Seção São Paulo